História da Turma Reservistas da "Classe de 1935" |
Corria o ano de 1954. O Brasil, politicamente, apresentava um quadro agitado, ocasionado pelo forte posicionamento da grande imprensa nacional, liderado pelo jornalista e tribuno carioca Carlos Lacerda, contra o governo do presidente GETÚLIO DORNELLES VARGAS. Em contra-partida, a hoje eterna Miss Brasil, a baiana Marta Rocha, encantava o país com sua beleza loira e o verde de seus olhos. A cidade do Rio Grande se projetava no cenário desenvolvimentista do Estado, face às dezenas de médias e grandes indústrias aqui instaladas, voltadas, às áreas de conservas de frutas e pescados. A juventude da "Noiva do Mar" se deleitava, aos fins de semana, nas reuniões dançantes e "brincadeiras", realizadas no Clube do Comércio, Caixeiral, Associação dos Empregados no Comércio, bem como na inesquecível Boate Veterana, uma iniciativa social do Sport Club Rio Grande, o clube de futebol mais antigo do país, introdutor dessa modalidade esportiva no Brasil. Aqueles jovens, na faixa etária dos 18 a 19 anos, enquanto aguardavam a chamada para "sentar praça" no 7o GACosM (Sétimo Grupo de Artilharia de Costa Motorizada), cursavam o "Clássico" ou o "Científico”, no Colégio Estadual Lemos Jr. ou no Colégio São Francisco, dos Irmãos Maristas, este administrado pelo inesquecível Irmão Fidêncio, um misto de religioso e musicista. Esses adolescentes, envolvidos nas atividades sociais e estudantis da cidade, não costumavam - inicialmente - olhar, com bons olhos, para a presença na cidade dos jovens aspirantes e oficiais, que aqui aportavam, para exercerem suas atividades no 7o, pois achavam que os garbosos Maçada, Meneghinni, Mambrini, Nunes, Ribeiro, Dirney e Weber, entre outros, fatalmente, viriam a mexer com o coração das lindas meninas que enfeitavam as festas e se destacavam nos ...
... "footings" dos fins de semana, em frente a Confeitaria Dalila e Confeitaria Sol de Ouro.
Foi desta forma, que os guapos e destemidos rapazes da Classe de 1935, no raiar do dia 07 de junho de 1954, foram incorporados , ao 7o GACosM, trocando os bem talhados ternos azul-marinho e seus sapatos “bicos-finos” de verniz pela gloriosa farda verde-oliva e pelos pesados coturnos ou "Combat-Boots".
Desfile da Semana da Pátria em 1954
A destemida Classe de 35, incorporada no histórico ano de 1954, passou, ao longo daquele ano, por um período altamente conturbado, dado a situação política nacional que culminaria com o trágico suicídio do PRESIDENTE GETÚLIO VARGAS, em seus aposentos no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, então Capital da República do Brasil. Como conseqüência advinda desse fato, os soldados de 35 passaram a conviver com o quartel impedido, com pernoites contínuos, situações de alerta, culminando com um período de 16 dias de efetiva presença dentro do quartel, bem como no desempenho de rastreamentos nas estradas rodoviárias do Estado. Um dos companheiros, inesquecível pela sua alegria, coleguismo e caráter, foi o colega Victor Hugo Modernell (ex Sd 626), o qual, em 10 de junho de 1986, há 32 anos, da incorporação, redigiu e encaminhou aos ex-colegas, uma bela mensagem que é uma lição de vida e de otimismo a todos aqueles que passaram por esta fascinante experiência, que é servir à Pátria. Por oportuno, está reproduzida, abaixo, a bela peça escrita pelo Soldado 626.
“Companheiros da Classe de 35, do 7o GACosM”.
Quantos de nós, a maioria talvez, fez de tudo para “escapar do Quartel ?”. Isto, lá por 53 e 54. Quantas desculpas inventamos durante a seleção e o exame médico, na época ? Mas, afinal, chegou o dia 7 de junho de 1954 e lá estávamos nós todos, iniciando uma passagem e uma lição de vida, que não foram esquecidas: as alvoradas, as ordens unidas, as guardas, as marchas, os acampamentos, as instruções, as detenções, as prisões, as revistas, o silêncio, os sargentos “durões” e, finalmente, o dia tão esperado da baixa. Mas, 32 anos após, ninguém nos obrigou a voltar ao antigo quartel, mas voltamos. Por quê ? Acho que foi porque nós fomos os primeiros a quebrar um "tabu''. Tabu de que "o quartel é ruim". Eu, pessoalmente, acho o contrário, pois, aprendi muitos princípios que me foram úteis, durante minha vida profissional e conheci pessoas que me serviram de modelo humano. Se fosse realmente ruim (pode ter sido duro), nenhum de nós estaria lá, 32 anos depois, alguns viajando mais de 600 quilômetros, para entrar na fila do rancho e comer "feijão duro" com "arroz empapado" e baixar tudo com o "chá brochante". Este fato, me fez desenterrar, da memória, algumas lembranças de quando prestava meu serviço militar: no Exército cada um de nós era um número em uma relação de números; era uma peça idêntica à da classe anterior e idêntica à da classe posterior, no contexto de uma engrenagem. Uma engrenagem que precisa funcionar; uma engrenagem com uma função vital à nação. Um general sem soldados não tem função. Quando era escalado para a guarda, tinha vontade de protestar, mas não protestava e, no intimo, me sentia importante, útil. Se ninguém tirasse guarda, o quartel fecharia e os generais iriam para casa, mas aí a nação ficaria vulnerável. Pela Constituição, mesmo após a baixa, não termina nossa obrigação, mas, acho que mesmo sem a necessidade da lei poderemos continuar, sendo úteis. É muito melhor e mais nobre escalar-se voluntariamente, mesmo correndo o risco de errar, do que fazer parte de um contingente de pessoas que passa pela vida sem conhecer vitórias e derrotas, deixando a vida fluir ao seu redor. Meu primeiro emprego, aconteceu uma semana após ter dado baixa. Fui vendedor durante quase 25 anos. Quando balconista e, às vezes, não sabendo que atitude tomar, me colocava como quando era soldado: “acertava o passo, de acordo com o da frente; quando viajante, me colocava como o sargento, que dava duro para fazer cumprir a ordem vinda de cima; quando gerente, me colocava como o oficial que deveria encontrar a melhor maneira de atingir um objetivo; e, se fosse o diretor da empresa, me colocaria como o general, que precisa manter uma complexa engrenagem funcionando, porque sua razão é a razão de ser daquilo que lhe é confiado”. Esta é a lição de vida que nos passou o ex-soldado 626. Quando ele acentua: “32 anos depois, alguns viajando mais de 600 quilômetros para entrar na fila do rancho ...” refere-se aos seguintes fatos: Alguns anos após, a baixa do serviço militar, foi idealizado por Trajano Lopes de Bittencourt, um encontro anual dos amigos e companheiros de caserna. Trajano, então, conversou entre outros, com Hélio Alves de Souza, Arleo Bonfiglio Olinto, José Mário Chaves Coutinho e Válter Édison Abel, tendo sido marcado um jantar, entre eles, para ser combinado o que fazer nesses encontros. Ficou acertada, entre os participantes, a realização de um jantar, nos dias 10 de junho de cada ano, data esta, alusiva e comemorativa ao Dia da Artilharia. Este jantar, desde então, é realizado nas dependências do quartel, a convite dos comandantes do 6o GAC, com a presença da oficialidade, subtenentes, sargentos, cabos e soldados, além, dos remanescentes reservistas da Classe de 1935. O local escolhido foi exatamente o do “rancho”, com bandejão, exatamente como há 46 anos. A turma de 35 foi a primeira leva de reservistas, em todo o Brasil, que teve esta idéia, fato este, já comprovado através da publicação do mesmo, pelo Noticiário do Exército, em uma de suas edições. Além dessa comemoração pelo dia da Artilharia, realiza-se, também, em um restaurante comercial da cidade, na segunda sexta-feira de novembro de cada ano, um jantar com os componentes da classe de 35 e seus familiares. Estes eventos sempre contaram, para seu maior brilho, com a presença dos comandantes e subcomandantes do 6o GAC à época de sua realização.
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